sábado, 28 de fevereiro de 2015

Yoguini

Ela tinha procurado as aulas por indicação de uma colega do trabalho. Conversavam durante uma pausa para um cafezinho e a colega exaltava os benefícios obtidos desde o começo das aulas, algumas semanas antes.
No princípio achou tudo muito estranho e diferente. A colega havia comentado que não se tratava de religião ou uma seita, mas percebeu que haviam vários rituais a seguir e ficou desconfiada. Mas já que estava ali resolveu entrar de vez e ver no que dava. Se não gostasse, era só não voltar. Para piorar a colega de trabalho havia faltado a aula, justamente naquele dia. Sentindo-se perdida, deixou que a voz do mestre a conduzisse.
Ao término da aula, sentiu-se muito bem e revigorada. Atribuiu à novidade. Gostara de toda a aula, pranayamas, asanas, mas principalmente do yoganidra, o relaxamento realmente funcionara. Sentia-se leve, quase flutuando. Voltou para casa com um sorriso no rosto.
Logo que entrou, o marido e os filhos notaram a diferença e comentaram, entre gracejos, que a nova seita havia lhe feito bem. Tentou, inutilmente, explicar não se tratar de uma seita, muito menos uma religião, apesar de levar à reflexão e incentivar o autoconhecimento. Pura perda de tempo.
Gostava dos pranayamas e nos asanas descobriu uma flexibilidade que nunca imaginou possuir. Percebeu, também, um aumento de libido, que não passou despercebido em casa. Mas esperava o final da aula por sua parte preferida, o yoganidra. Sempre ao iniciar o mestre pedia que mentalizassem um desejo ou intensão, e repetindo-o por três vezes. Nunca entendeu essa parte, mas sem questionar seguia as orientações e, vinha-lhe, invariavelmente à mente a palavra “felicidade”. Ao longo do tempo, repetidamente a frase materializava-se diante dos seus olhos fechados, antes de entrar em profundo relaxamento: “desejo ser feliz”!
Encarava como uma afirmação, ou confirmação, já que se considerava feliz. Adorava a família, o marido atencioso, os dois filhos educados e bem criados e o emprego onde já trabalhava há muito tempo e era respeitada e gozava do reconhecimento dos superiores e dos colegas por seu profissionalismo.
Assim os dias, semanas e meses se passaram ela cada vez mais satisfeita com sua rotina, agora aditivada pelas aulas de yoga.
A cada início de yoganidra ainda era a mentalização sobre o desejo de felicidade que lhe ocorria, o que atribuía à afirmação do sentimento que tinha, grata por tudo que recebia.
Os filhos, agora crescidos, saíram de casa para estudar em universidades distantes e estavam, cada vez mais envolvidos com suas vidas. E a sua seguia seu agradável ritmo rotineiro, até uma manhã. O marido acorda e, durante o café, comunica-lhe que está indo embora pois se cansou da rotina do casamento. Ela fica olhando para a xícara de café preto que ainda fumega enquanto ele pega a mala recém arrumada e sai pela porta.

Ela permanece sentada por mais trinta, quarenta minutos, uma hora, olhando para a xícara com o café, que agora jaz frio.

 Até que um sentimento de imensa felicidade começa a invadi-la...


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Aforisma II

"A liberdade de um náufrago em uma ilha deserta, só é comparável ao seu desamparo."



domingo, 22 de fevereiro de 2015

Aforisma

"A erudição é uma arma tão poderosa que, ao ignorante, só resta a violência."



quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Tesouro

Podem levar tudo
que tenho... não importa,
ainda sigo mais rico.

Não há o que pague,
o sentir autêntico.