sábado, 26 de setembro de 2015

Alarme...

O alarme tocou sem cessar...
Por que plantas jardins se não queres regar?
Por que tens filhos se não queres olhar?
Por que buscas amor se não queres te entregar?



domingo, 20 de setembro de 2015

Selfie Sad

Seus olhos se cruzaram pela primeira vez através do visor da velha câmera polaroid. Ele dedilhava a guitarra sentado no cubo amplificador que estava ligado na tomada da cafeteria ao lado.
Era uma esquina movimentada, sempre conseguia um bom dinheiro. Mas aquela tinha sido uma tarde fraca, até foi possível notar a moça com a polaroid. Quando levantou os olhos do ladrilho e sorriu para ela, ouviu o disparo surdo entre dois acordes. Ela retribuiu o sorriso.
Com os poucos trocados que tinha convidou-a para tomar um café. Enquanto se conheciam e o café esfriava, a foto foi se materializando no plástico.
Ele ficou curioso sobre a câmera, ela contou que o pai trouxera de uma das viagens aos Estados Unidos, lembrança de tempos melhores.
Estava no último ano de medicina quando o pai perdera o emprego de muitos anos. A mãe havia morrido de câncer quando ela tinha 7 anos e ele a criara sozinho. Tinha sido demais para ele, não suportara o último golpe, caíra em uma depressão profunda e não se recuperara. Em uma das visitas que fizera ao pai, que acabou sendo a última, ele havia lhe dado a câmera. Ela só a utilizava em ocasiões especiais, o filme era difícil de encontrar e muito caro.
Fazia residência, mas a grana ainda era curta. Alugava um pequeno apartamento onde vivia com a outra herança do pai, uma velha gata que, na verdade, ela mesma tinha recolhido das ruas quando cursava o ensino médio. No começo o pai havia reclamado, mas percebia a solidão da filha e permitiu que a gata ficasse. Mais tarde quando passou no vestibular e teve que sair de casa, a gata passou a ser a companhia do pai. Afeiçoara-se a ela e passaram a ser a companhia um do outro. Agora uma fazia companhia a outra e ambas sentiam falta dele.
Quando entraram em seu apartamento, a gata se escondeu atrás do sofá. Ela não tinha muito a oferecer, mas ele acabara de ser despejado da república em que vivia. Desde que trancara a faculdade de arquitetura, a grana sumira. Cancelaram a bolsa que recebia e a mãe, que já não estava feliz com um filho arquiteto e sempre desejara que ele seguisse a carreira do pai e fosse advogado, cortara os depósitos em sua conta bancária.
Logo ele estava instalado no apartamento. Quem não gostou da ideia foi a gata. Não se acostumava com a sua presença. Ele não tocava no assunto, era óbvio o carinho da dona pelo animal. A casa estava repleta de instantâneos do bichano tiradas com a polaroid. Dele, apenas uma que fora tirada na tarde em que se conheceram.
A gata foi ficando cada vez mais arredia e quieta. Quase não aparecia. Também não comia. Em visita ao veterinário o diagnóstico foi velhice e um suplemento de vitaminas. Pouco tempo depois encontraram-na morta junto a porta. Mais uma grave perda para ela. Levou um bom tempo para se recuperar.
Ele gostava do tempo que passavam juntos, se bem que estes momentos estavam cada vez mais escassos com o final do período de residência. Tentava contribuir com as despesas da casa com o pouco que ganhava tocando para sua plateia itinerante. Há muito tempo não via a mãe, nem sentia vontade de visita-la. Tentara ligar mas ela não atendera.
Tudo foi ficando cinza, mesmo quando a garota lhe pedia que tocasse sua canção preferida na sacada ao pôr do sol, o que já tinha lhe proporcionado grande prazer ao vê-la sorrindo e com os olhos baços. Agora, tocava sem vontade, mecanicamente.
Ela nada lhe cobrava, apenas a companhia. Mas mesmo isto se tornara demais. Numa manhã pegou sua mochila e a guitarra e desapareceu.
Ele passou a morar na rua, dormia em albergues ou até na praça. Havia vendido a guitarra pois já não tocava mais. Algum tempo depois ela ficou sabendo do acidente. Ele havia sido atropelado por um ônibus. Testemunhas disseram que nem tentara sair da frente do veículo.
O período de residência acabara. Da sacada ela olhava para o perfil dos prédios sob a luz do sol que desaparecia. Pensou em seu futuro e lágrimas rolaram pela face. O estojo com a polaroid estava pendurado no cabide junto a bolsa.

Retirou a câmera do estojo, mirou-se no espelho e acionou o disparador. Logo a imagem se formaria no plástico, mas ela já podia sentir a tristeza alojando-se no coração.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Semana Farroupilha

Mesmo longe da querência, os nativos do estado mais austral do pais não costumam esquecer da data comemorativa que lhes é mais cara. Em homenagem a todos crioulos desta terra, posto esta apresentação que justifica um passado de muita luta para alicerçar os ideais republicanos e democráticos.  



sexta-feira, 11 de setembro de 2015

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Espelho D'água

O que sinto não é fome,
é desejo.
De um gris soturno e 
uma profundidade baça.

A chuva me alegra,
o breu salienta a luz dos teus olhos
e o alvo da tua pele.

Mas a satisfação é a morte do desejo.
A impossibilidade, seu florescer...
tudo em uma rasa profundidade.