segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Passiflora

Poeira suspensa
Lama pegajosa
Espuma que escorre

Pétala suave
Pistilo
Zangão negro, dourado

Forma cardíaca
odor inebriante
reflexo de luz

Fruto, polpa madura
Sabor suave de cura.



* modelo incidental: Pedro Fernandes Ribas

domingo, 4 de dezembro de 2016

Elogio


"O narcisista é o ser mais fácil de ser corrompido,
não se necessita nem dinheiro..."


domingo, 27 de novembro de 2016

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Seu Domingos

Antônio nasceu em uma casa de pau-a-pique, às margens do Arroio das Cabeças. Filho de Francisco, conhecido como Chico, um português emigrado que veio tentar a sorte no Brasil. Aqui, encantou-se por Ricarda, outra emigrada e juntos tiveram três filhos: André, Maria e Antônio.
A vida nunca foi fácil. A moradia era simples, sem nenhum conforto e as atividades do dia a dia, catar e cortar lenha, cuidar da pequena horta, das criações e, sempre que possível, pescar. O pescado era de graça, um reforço alimentar e uma herança lusitana. Seu Chico procurava trabalho na vila, trabalho temporário que naquela época chamavam de changa. Sempre que conseguia, o jantar era mais farto.
Apesar da origem humilde, seu Chico era um homem honrado e não costumava levar desaforo para casa. Pelo que se sabe, por duas vezes quase perdeu a vida precocemente.
A primeira, em uma briga com um gringo desafeto em uma disputa pela primazia em atravessar uma ponte de dormentes sobre um arroio. Da briga, restou um pedaço de seu bigode guardado em um vidrinho com álcool e uma cicatriz no lábio superior.
Na segunda foi mais séria, ao destratar um poderoso criador de gado e proprietário de terras, foi emboscado e amarrado em um capão de mato para ser executado mais tarde. Por sorte, um mascate que havia perdido o trem, seguia pela linha férrea e ao ouvir seus chamados, o desamarrou, libertando-o. No dia seguinte, seu Chico estava no mesmo bolicho, bebendo um liso e contando a história. O poderoso proprietário de terras deve ter desistido de mandar matá-lo, não valia o trabalho.
Mas a história de Antônio se torna peculiar quando seu pai, Francisco, muda seu nome para Domingos, numa tentativa de evitar sua convocação para o serviço militar. Assim, aos dezoito anos, nascia um outro homem.
Em uma quermesse ou em um baile de candeeiro, encantou-se por uma galega e resolveram mudar-se para um povoado próximo, mas também vizinho à ferrovia. Neste lugar arranjou trabalho e logo estavam morando em uma casa com a varanda voltada para o leito da ferrovia. Quase todos os fins de tarde, Domingos sentava ao alpendre e observava a composição passar lentamente. Junto com o olhar, iam seus sonhos.
Em menos de um ano, sua vida passa por nova mudança. Ao chegar em casa, descobre que a galega havia ido embora com um maquinista em uma história de amor que havia começado entre uma janela e um aceno por instantes, todos os dias.
Solitário, Domingos começou a se fazer presente nos bolichos, diariamente. O cigarro e a cachaça eram seus companheiros. Esta situação perdurou por algum tempo, a casa já não cuidada, até encontrar Izaura, mestiça com bugre, mulher quieta e gentil, mas que adorava dançar.
Apesar de todo amor de Izaura, Domingos ainda carregava em seu coração a mágoa e a decepção do abandono. A cachaça e o cigarro acompanhavam-no como velhos companheiros. Uma noite, após a venda fechar, voltava para casa com um saco onde levava um pacote de macarrão e uma lata de sardinhas, almoço para o dia seguinte, e ao tentar atravessar os trilhos do trem, que sempre haviam acompanhado sua existência, tropeçou e devido ao estado etílico não conseguiu colocar-se em pé a tempo de escapar da composição que se aproximava sendo atingido na cabeça, perdendo muito sangue. Somente foi encontrado na manhã seguinte. Nascia novamente, uma terceira vez, felizmente recuperou-se, mas desde aquele dia nunca mais bebeu ou fumou outro cigarro. Um alívio para dona Izaura e para os filhos.
Ao lado dela, sempre em uma relação de poucas palavras, nunca fora de falar muito, criou seis filhos, três homens e três mulheres que cresceram e formaram suas famílias. Quando se encontravam em algum fim de semana, filhos, noras e netos, na face marcada pelo tempo e o sol, podia-se ver um leve sorriso esboçado pelo seu Domingos.
E assim foi, por mais de cinquenta anos, até que Dona Izaura partiu em uma tarde quente, segurando a mão do seu companheiro de uma vida inteira. Apesar de nunca terem se casado e ele ter nascido Antônio e se tornado Domingos.



GLOSSÁRIO:

     1- Changa: trabalho temporário, bico.
     2- Arroio:  riacho, curso d´água.
     3- Capão: palavra de origem Tupi significando “mata redonda” ou “intervalo de mata”.
     4- Bolicho: venda, armazém de beira de estrada.
     5- Liso: dose de cachaça.
     6- Galega: mulher de pele e cabelos claros, normalmente de origem europeia.
     7- Bugre: índio.
     8- Baile de candeeiro: baile normalmente realizado em um galpão ao som de gaita e violão e à luz de candeeiros (lampiões)

domingo, 30 de outubro de 2016

Pranto

Lágrimas se acumulam por trás dos olhos,
formam lagos e turvam a visão.
Teimam em não verter.

Temos tanto porque chorar...
mas a face não se faz molhar.

Um dia as comportas se abrem
diante de um poema, canção ou cena, 
a vista fica clara e a alma não se apequena.




domingo, 23 de outubro de 2016

" Esperar que um povo que não sabe utilizar um elevador, faça escolhas sensatas para seus governantes é pedir muito..."



* Já na Antiga Grécia, Arquimedes postulava que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar, ao mesmo tempo... portanto é sensato supor que aquele que está no interior desocupe o lugar para que um novo corpo possa ocupá-lo.  Isto vale para elevadores, transportes coletivos, etc...

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Outrora

Era um tempo em que as pessoas 
podiam se conhecer... 
mesmo que superficialmente.



quarta-feira, 5 de outubro de 2016

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Abismo

Só compreendo paixão por pessoa,
quiçá por um bicho.
Não entendo paixão por coisa, por ato...
não tem sentido.

Se a paixão não pode ser correspondida,
andamos no vazio...
gritamos para o abismo.





segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Muitas mortes

Já morri duas vezes.
Renasci outro e eu.
Algo seca em teu interior,
enquanto raízes enterram-se
mais profundamente.

Quando a luz alcança
partes antes obscuras,
talentos, oportunidades,
vicejam em um novo tempo.




segunda-feira, 22 de agosto de 2016

sábado, 13 de agosto de 2016

Vidas (Águas Emendadas)

Nenhum rio nasce igual. Alguns brotam do útero da terra em meio a platôs e logo precipitam-se por centenas de metros até o vale abaixo onde encontram um leito sereno. Outros correm mansos por quase toda a sua extensão. Existem, ainda, os que alternam remansos e corredeiras. Há rios que voltam a sumir no seio da terra e afloram quilômetros adiante.

Rios gêmeos somente ocorrem em um lugar deste planeta. Por um capricho da natureza, em uma nascente no planalto central do Brasil, próximo ao centro da capital do país. Foi criado um parque para proteger a origem de dois dos maiores rios que cortam o continente, rios irmãos, filhos da mesma nascente, mas enquanto um toma caminho para o sul, o outro segue para o norte, cada um para o seu destino, recebendo outras águas e crescendo, até sua foz...






domingo, 31 de julho de 2016

domingo, 17 de julho de 2016

Mundo

Entrei em um templo
com as botas sujas.

Deixei minhas marcas
por onde andei.

Procurei em cada canto,
nicho ou altar

mas o sagrado
estava em todo lugar.





domingo, 3 de julho de 2016

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Girassol

Quando a lança penetrou a flor,
suas pétalas penderam.
Jaz o Leão, entregue,
em meio ao trigal, sem forças,
mas com a vitória em suas entranhas.



terça-feira, 24 de maio de 2016

Separação

Você diz "sim"
Eu digo "sim"

Você diz "não"
Eu digo "sim"

Você diz "sim"
Eu digo "não"

Você diz "não"
Eu digo "não"






segunda-feira, 16 de maio de 2016

Ocaso

O Pôr do Sol é um poema 
que a vida nos apresenta
para aplacarmos nossas angústias
ou celebrarmos nossas vitórias
do dia que vai embora.



segunda-feira, 9 de maio de 2016

Adegas

Os dias são como garrafas de vinho.
A cada amanhecer sacamos a rolha de uma.
Algumas não são tão boas, muito tanino, barato,
mesmo assim podemos sorvê-lo como aprendizado
ou vertê-lo no ralo, desperdiçando-o.
Outros descem suavemente, apurando nosso paladar,
proporcionando raro prazer e novas experiências,
fazendo que desejemos que não se finde.
Inútil.  
O amanhã sempre nos reserva uma surpresa.
Saúde!

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Amizades

Amizades são flores esquisitas.
Brotam à luz da lua,
sob luz de velas,
sobre a terra nua.

Amizades são flores raras.
Brotam de sementes das almas,
de lágrimas choradas,
de espinhos sob os pés.





sexta-feira, 1 de abril de 2016

Tapera

O coração tornou-se tapera,
rodeado de cina-cinas.
De dentro bombeio horizontes...
alguma prenda, de relancina.







quinta-feira, 31 de março de 2016

d'Alma

Que abismo existia
dentro desta criatura...
Quão profundo e escuro?

Capaz, com tal desenvoltura,
de criar tanta beleza
nascida de imensa tortura.


segunda-feira, 7 de março de 2016

Na Savana...

Há milhares de anos...

- Você é que é feliz cara! Pode sair para caçar a hora que quiser. Voltar só na outra estação...

- Você diz isto porque não passa o que tenho que passar. Minha caverna está sempre uma bagunça, minhas peles, sempre cheirando a mofo e meu fogo vive apagando. Sempre que volto, tenho que pedir uma brasa para um vizinho. Além do mais, você tem uma lança de pedra lascada novinha, essa pele macia e confortável e seu fogo está sempre aceso.

- Isto é verdade, mas o preço que tenho que pagar? Desta última vez ela me pediu a pele de um urso, diz que a dela está muito velha. Acho que tudo isso começou porque a vizinha da caverna em frente apareceu com uma nova.

- Mas isto não é tão difícil. Quando encontrar um urso...

- Mas pera aí...não é de um urso qualquer que ela está falando. Reclamou que o inverno está muito longo e rigoroso e precisa de uma pele mais grossa.

- De que? De lobo? Leão da montanha?

- Não. Ela ouviu falar de um urso branco que vive nas planícies do Norte e que tem a pele mais macia e quente.

- Urso branco? Onde vamos encontrar?


- Quem sabe achamos um desgarrado...



* digitado por Marina (10 dedos)

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Caminhos

Poderia te seguir,
mas seguiria por um 
caminho que já trilhei.

Uma paisagem que já conheço,
talvez, desta vez sem tropeços.

Não sei, quem sabe...
Nova trilha, novos ares.
Novos pratos, novos amores.
Incertezas, dissabores...

Pedras, cercas, fendas...
Aclives, declives, veredas...
Assim segue a vida...



quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Jeep

      Um amigo de longa data me confessou que o sonho que acalentava desde menino era ter um Jeep Willys, pois um tio, com quem havia convivido por muito tempo na infância, tinha um desses veículos e haviam vivido várias aventuras a bordo dele. 
     Depois de adulto, já com a vida estabelecida, surgiu a oportunidade de adquirir o tão sonhado Jeep. Um exemplar 1958, "quase original".
Ele admitiu: - foi, provavelmente, o meu momento de maior felicidade, só superado pelo dia em que consegui vendê-lo..."