sábado, 7 de setembro de 2019

Ode a Liberdade

A porta está aberta
serventia da casa
não como desaforo
mas como benefício
fique, se quiser
fuja, se precisar



domingo, 1 de setembro de 2019

A Mensagem



                Carolina tentou acomodar-se na estreita poltrona do avião. Depois daqueles dias maravilhosos ao lado de Gustavo em uma suíte luxuosa, fondue, massas, chocolates e suculentas carnes preparadas com esmero, não seria o desconforto de uma poltrona, nem o atraso do voo que iria acabar com sua felicidade. E os vinhos? Espumantes, cabernet, carménère, chardonnay acompanhados de queijos finos e saborosos embutidos. Mas o ponto alto tinha sido o passeio de trem, Gustavo nunca lhe contara que dançava e conhecia tantos ritmos. Tinha ficado, realmente, impressionada. Sua avó sempre dizia: nunca conhecemos, realmente, os outros.
Afivelou o cinto e colocou a mão sobre a mão de Gustavo que a observava pelo canto do olho e sorria. Neste instante, sentiu o telefone vibrar em sua pequena bolsa e lembrou-se que não o havia desligado. O avião ainda não estava taxiando, tirou o celular da bolsa mas antes de desligá-lo resolveu escutar a mensagem de Bia, sua melhor amiga.
Gustavo percebeu a mudança no rosto de Carol. Segurou sua mão e tentou descobrir o que estava acontecendo. Ela, congelada, pálida não conseguia tirar o telefone do ouvido, mesmo com a insistente solicitação da comissária de bordo. Quando conseguiu controle suficiente para baixar o telefone e finalmente desligá-lo, suas mãos estavam tremulas e molhadas. Só então percebeu as queixas de Gustavo, já que as unhas cortavam a pele da mão dele. Não conseguiu esperar até o avião decolar. Seus olhos vertiam lágrimas descontroladamente. Quando ela pronunciou o nome da amiga, Gustavo nem tentou negar, começo a desfiar um rosário de desculpas, das quais ela só lembrava: não tive a intenção de te magoar e nós estávamos tão felizes...
Quanto mais ele falava, ela mentalmente pedia: cala a boca, cala a boca. Achou que iria enlouquecer. Uma hora e meia ao lado do cara que a tinha traído com a melhor amiga? E que hora a desgraçada tinha achado de ter uma crise de consciência? Não podia ter sido no hotel, para ela poder ter um piti e quebrar vários objetos da suíte e ele ter que arcar com o prejuízo? Ou no apartamento, onde podia expulsá-lo e bater a porta com toda a força... justo naquele momento, nada mais a fazer, a não ser chorar, uma hora e meia ao lado daquele traste. Ela não merecia...
Tentou controlar-se mas a comissária notou seu estado e trouxe-lhe um copo d’água. Carol notou no rosto da comissária a reprovação com que ela olhou para Gustavo, como ela saberia? Isto já teria acontecido antes? Ou com ela? Duvidava.
Meu Deus, como era possível? Momentos antes sentia-se a mulher mais feliz do mundo, nos segundos seguintes, queria quebrar a janela e correr pela pista. Mas o pior era ter que suportar Gustavo tentando se justificar, por que não calava a boca? Ela até podia perdoá-lo, não ficar com ele, mas perdoá-lo simplesmente e esquecer, mas quanto mais ele falava, maior era a ódio que a consumia e mais difícil era suportar.
Finalmente aterrissaram, uma eternidade. Carol não conseguiu afastar-se de Gustavo até a esteira das malas, ele no seu pé, tentando pegar sua mão, falando o seu nome, boca imunda, falsa. Felizmente a mala de Carol apareceu, antes o suficiente da dele para ela sair e encontrar um táxi.

*Baseado em fatos...