domingo, 9 de dezembro de 2018

Pela eternidade


Ninguém perde o que não tem
Não perdemos um grande amor
Já que o outro nunca nos pertenceu
Mas o amor, se grande e verdadeiro
Sempre a nós pertencerá
Nada nos tira
Jamais acaba
Perene será



sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Solidão

Para alguns
parece prisão
Procuram em vão
o próprio coração

Para outros
é liberdade
espaço sem fim
imensidão
Felicidade



terça-feira, 13 de novembro de 2018

50 minutos


As sessões eram às terças, 17: 00 horas. No início, Sergio não via muito sentido naquela hora perdida. Ria e pensava que, pelo menos a hora tinha 50 minutos. Mas não havia muito o que fazer, a justiça havia decidido. Além da multa, o tratamento para controle da raiva. Amanda ficou esperançosa. Em casa era fácil manter-se calmo, raras vezes perdera o controle. A mais grave ocorrera quando lançara o prato em que estava comendo na parede. Os cacos espalharam-se por toda a sala de jantar. Sua mãe ainda era viva. Lembrava do olhar de desaprovação dela. Aquele olhar congelava-o e trazia para a realidade.
Tentara recordar o motivo de tanta raiva e nem mesmo lembrava. Seu terapeuta volta e meia, trazia o episódio à baila, inutilmente. O que lembrava era de Amanda com os olhos marejados, juntando os cacos e depois limpando o chão e a parede enquanto ele permanecia com a cabeça baixa, evitando o olhar de sua mãe no outro lado da mesa.
 A marca no reboco da parede permanecera por muitos anos. Somente após a morte da mãe resolveu pintar o cômodo e apagar os sinais.
Mas toda a frustração vinha à tona no trânsito. Já tentara várias maneiras de controlar-se. Música clássica, variar o caminho, até café deixara de tomar por algum tempo. Tudo em vão, uma fechada, um engraçadinho que tomara a sua frente, alguém que não saia imediatamente a abertura do sinal. Sergio esforçava-se, mas logo estava segurando o volante com tanta força que os dedos doíam. Reclamava com Amanda: parece que todos os maus motoristas escolhem a mesma hora e o mesmo caminho para me tirar do sério.
Não foram poucos os acidentes em que acabara envolvido. Alguns causados voluntariamente. Como quando o motorista do táxi tentara sair na sua frente pela rotatória e ele acelerara seu carro. O cara acha que, só porque está sinalizando se torna invisível?
Mas Fernando, seu analista, tinha proposto alguns exercícios, inclusive de respiração que pareciam estar funcionando. Afinal os 50 minutos não tinham sido em vão. Já fazia alguns meses que não se envolvia em acidentes e conseguia manter-se sob controle. Até aquela manhã no estacionamento do shopping. Avistou a vaga, próximo havia outro carro com a sinaleira piscando. Aguardou um instante, como o outro motorista não se moveu, arremeteu em direção à vaga no mesmo momento em que o outro veículo engatou a ré. Ele continua, certamente o outro motorista teria lhe visto, mas o outro veículo continuava em sua direção. Em vez de frear o outro carro aumentou a velocidade e abalroou o seu. No mesmo instante a porta do motorista se abriu e um homem furioso partiu em sua direção. Quase não reconheceu Fernando, seu analista, enquanto ele xingava em altos brados.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Pleito

Como a bela Pandora
ó Pátria amada
abriste a caixa
urna lacrada
inconsequente e vaidosa
soltastes a peste
a mentira e a raiva
com suas foices em riste
ceifando sonhos e vidas
restando remorsos e tristezas
escombros e pobreza


segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Pacífico


Seu Pacífico, é assim que todos o chamam. Na oficina que ele abre de segunda à sábado religiosamente as oito horas e fecha por volta das seis da tarde. A não ser nas tardes de sábado, quando tem uma partida de futebol. Neste caso a oficina de bicicletas, sua paixão, ou melhor, sua segunda paixão, fecha ao meio dia para que ele se prepare.
Atende a todos com gentileza e atenção, principalmente aos moleques. Aos que perguntam a razão, responde que são seus futuros clientes. É reconhecido na vizinhança pelo serviço esmerado e alguns clientes vem de outros bairros e até do outro lado da cidade. Isto enche Seu Pacífico de orgulho. Nas paredes, empoeirados e amarelados pelo tempo, fotos, pôsteres e flâmulas que relembram as glórias do passado de seu time do coração. Entre elas um recorte de jornal comemorando os cinquenta anos do primeiro título estadual salientando ser o primeiro campeão do estado.
Anexo, tem uma lojinha onde se pode encontrar peças para as Calois e Monarks, além de acessórios, como punhos coloridos, selins estofados e pneus especiais. Está sempre ocupado, serviço não lhe falta.
Ao chegar em casa, sua mulher começa a desfiar um rosário de queixas que ele ouve sem se manifestar. Logo vem os filhos com suas demandas. Muitas vezes Pacífico refugiava-se no banheiro onde demora mais que o necessário para tomar banho ou fazer a barba. Mesmo assim, logo alguém bate à porta perguntando se vai demorar. Pacífico esforçava-se para ouvir e tentar atender a todos. Não que as solicitações da esposa e dos filhos sejam exageradas, mas são muitas e ele, um só. Não perde a calma, escutava com atenção e promete tentar encontrar uma solução.
Finalmente chega o fim de semana e Pacífico mal pode esperar o início da partida. Trajando a camiseta do seu time do coração, encontra os amigos e fanáticos torcedores, na frente do estádio uma hora antes início. Trocam informações sobre a escalação, os reforços e tudo o mais que diz respeito ao amado time enquanto atacam um churrasquinho ou um pastel.
Entram ao estádio e dirigem-se ao local que consideram o melhor para assistir à partida. Pacífico é tomado por uma forte ansiedade que só se dissipa com a entrada de seu time ao gramado, que é ovacionada como gladiadores ao entrarem no Circus Maximus. Os árbitros e auxiliares são sonoramente hostilizados mesmo antes de terem oportunidade de cometer qualquer deslize. O objetivo é a intimidação causada pela pressão da massa que também é dirigida ao adversário, “Os que vão morrer, vos saúdam”, ao som dos mantras cantados pela torcida e a batucada infernal da charanga.
A tensão em Pacífico já é visível nas mãos cerradas com os dedos brancos e nos olhos injetados combinando com a cor da camiseta.
Ao soar o apito inicial a transformação se completa e Pacífico não atende mais pelo nome. Grita incessantemente palavras que jamais usaria no seu dia-a-dia, espalhando perdigotos e ofensas para o gramado.
Sua fúria volta-se até mesmo aos parceiros de torcida que ousam criticar a equipe em momentos inadequados. Em um lance duvidoso em que o árbitro marca um pênalti contra seu time, Pacífico perde o fio da sanidade que o liga à normalidade e tenta invadir o gramado escalando a tela de proteção. É contido pelos Brigadas que fazem a segurança e levado aos berros e esperneando a uma sala embaixo das arquibancadas onde fica isolado, sem poder assistir o final da partida e saber que o goleiro da sua equipe defendeu o pênalti e num contra-ataque o atacante marcou um gol driblando o goleiro.
Pacífico tem que se contentar com os relatos dos amigos e as cenas mostradas na TV no dia seguinte. Somente é liberado de seu castigo uma hora após o término da partida, já que até os policiais estão indo embora.
Ao chegar em casa a mulher pergunta por que da demora, gentilmente ele responde que ficou conversando com os amigos. Cansado e suado percebe um rasgo na camiseta. Dirige-se ao banheiro e toma um banho demorado. Seu Pacífico sente-se preparado para enfrentar mais uma semana.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Vento

O vento soprava
daqui, soprava de lá

O vento logo parou
as portas pararam de bater
as janelas, de falar



quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Escrever

Engraçado
faz algum tempo
sinto não pertencer 
a lugar algum
Não tenho canto
não encontro pouso
a partir dai, ouso

Todo lugar me pertence
a ele fui destinado
não aqui, ali, acolá
para todo e qualquer lugar

Pedaços boiando em oceanos
podem chegar, quiçá
nalguma ilha
alguma mente
um porto seguro
além da tormenta
seguindo a corrente




terça-feira, 10 de julho de 2018

Supernova


Cansei de encontrar pessoas rasas
procuro um lago profundo
ou um Mar abissal
que me leve as estrelas
outros mundos
e sem alento
pare o tempo




quinta-feira, 5 de julho de 2018

quinta-feira, 31 de maio de 2018

O Último Episódio


Só me lembro da dor no peito enquanto assistia ao último episódio de “Casa de Papel”. Pensei: fudeu, não vou conseguir saber como terminar...
Felizmente, ou não, até os paramédicos chegarem a TV ficou ligada e entre um espasmo e outro consegui acompanhar a trama até o final. Na verdade, ouvi mais do que assisti. Ouvi quando minha mulher ligava desesperada para a emergência, quando os paramédicos tentaram a ressuscitação e até quando um deles falou para o motorista da ambulância que não necessitava mais apressar-se.
Engraçado, mas continuei escutando mesmo sabendo que não habitava mais aquele corpo.
Algo muito estranho para mim. Mas tinha sido curioso minha vida inteira, como não continuar na morte? Afinal, era a primeira vez. Fiquei por ali ouvindo as mais variadas opiniões a meu respeito. É esclarecedor o que as pessoas falam sobre você quando imaginam que não está por perto.
Meu velório foi uma experiência fantástica, e pensar que eu havia pedido para que não fizessem... Pelo menos a cremação foi realizada. Por um instante receei sentir algo quando o corpo começou a ser consumido pelas chamas, mas saí do outro lado ileso.
Quando me perguntava o que poderia fazer neste estado em que me encontrava, uma porta se abriu, é uma porta no nada, para o nada, e tenho que admitir, havia uma luz muito forte saindo por ela, uma luz que não ofuscava. Passei através da porta, literalmente, não me sentia ligado a mais nada deste lado. Logo em seguida me encontrei em um imenso vazio pontilhado de estrelas. Milhões de sóis como não poderia observar da Terra. Uma outra porta se abriu e um senhor simpático de barbas longas me fez sinal para segui-lo. Passamos para outro ambiente completamente branco e confortável.
Ele me chamou pelo nome e pediu que ficasse à vontade. Perguntei quem ele era e o que ele estava fazendo ali. Perguntas óbvias mas ele respondeu, seus lábios se mexiam mas as palavras que ouvia em minha mente não correspondiam às que eram articuladas.
 - Sou Deus e você está aqui porque morreu.
Isso parecia óbvio, mas minha dúvida era outra: Porque eu? Sempre me declarei ateu!
Ele me olhou com uma expressão de enfado:
- O mundo anda muito chato, se não desse tanto trabalho eu o destruiria outra vez. Mas de que adiantaria, vocês não aprenderiam nada, como das outras vezes, causa perdida.
Meio encabulado com o seu desabafo, lembrei:
- O senhor não me respondeu.
- Ora, gosto de conversar sobre vários assuntos, mas só me aparecem crentes recitando passagens da bíblia, como se eu não a tivesse escrito. Bem, na verdade não escrevi, mas inspirei.
- E quais assuntos Lhe interessam?
- As maiores realizações da humanidade, suas pinturas mais intrigantes, poemas e peças dramáticas ou satíricas. As descobertas científicas também me encantam. Vocês descobrem caminhos que eu jamais sonharia, mesmo sendo onisciente... brincadeira. Mas, o que mais me encanta é a música. Meninos criativos esses: Ludwig, Amadeus e Sebastian. Acho que a música deles funciona muito melhor que algumas orações, por vezes.
Sempre aprovei todas essas coisas também.
-  Quer dizer que o Senhor me trouxe aqui para falar sobre arte, pois estava entediado?
- Por que a surpresa, por acaso você tem algo melhor para fazer, por toda a eternidade?
- Não, mas deixei vários projetos inacabados do outro lado.
- Talvez prefira conversar sobre trabalho?
- Como o Senhor quiser...
- Então, quando criei todos vocês e aquela chatice do Éden, ficou tudo perfeito, só que não. Aí me ocorreu a ideia, uma sacada, como diriam na sua profissão. Resolvi por pimenta no negócio e criei o diabo, tive que inventar toda uma história sobre anjos revoltosos e caídos, mas o pessoal comprou. Como profissional, o que você achou do meu produto?
- Muito eficiente, falei.
- Pois é, mas agora vou te contar por que fiz tudo isso.
E nas paredes, que não eram paredes, assisti em segundos, desde o Big Bang até a invenção do smartphone.
Neste instante uma lancinante dor no peito me fez abrir os olhos e encarar as luzes de uma sala de emergência...


quinta-feira, 24 de maio de 2018

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Inter rogações

Não nasceste de uma mulher
a fórceps, cesárea, naturalmente
Não te levantas toda manhã
bebes teu café, chá, suco de graviola
Não labutas todos os dias
almoças, lanchas e jantas
Não chegas exausto em teu lar
banha-te e descansas para a tudo retornar

Mas quando amas
te sentes único
especial, agraciado

olha-te ao espelho
o que vês de diferente




quarta-feira, 2 de maio de 2018

Paixões Binárias


Em um difuso futuro
tudo perde a materialidade
O dinheiro vira moeda imaginária
Existe ou não existe
entre o sim e o não
entre o um e o zero
A música dos instrumentos ao bolachão
Do pequeno CD ao pen drive
agora somente na nuvem
Paixões que oceanos atravessavam
linhas desesperadas em porões
depois, a bordo de aviões
Agora se transmutam
tão logo se iniciam
ao click de um botão
Tu me correspondes ou não?




domingo, 15 de abril de 2018

terça-feira, 10 de abril de 2018

33.000 ft

A morte me ronda
desde o nascimento
Talvez antes disso

Tento estar dois passos a sua frente
Nem mais, nem menos
quando sinto seu hálito
viro-me e a encaro nos olhos
ela desacelera e voltamos ao caminho







sexta-feira, 16 de março de 2018

O Tiro

foi o tiro que matou a negra
foi o tiro que calou a ativista         em    nça
foi o tiro que acertou a corag            era
foi o tiro que destroçou a esp
foi   o   tiro
foi   o   tiro
foi   o
foi

terça-feira, 13 de março de 2018

Eros

O amor é mendigo por natureza
implora, suplica, sucumbe
O apaixonado torna-se mítico ser
cria asas, mas rasteja
bafeja chamas e fumaça
e tem o coração 
fora da carapaça




domingo, 4 de março de 2018

À Procura da Felicidade


Neste filme Will Smith faz o papel de Chris Gardner, um afro-americano com escolaridade mediana. Casado e pai de um filho(Christopher, interpretado pelo próprio filho de Will Smith, Jaden Smith ), Chris se vê desempregado, abandonado pela esposa e com a guarda do filho. Sem recursos para prover nem o próprio sustento, quanto mais as necessidades do filho de 5 anos (que na verdadeira história, tinha por volta de um ano e meio), se vê obrigado a dormir em abrigos e banheiros públicos, contando com a caridade de movimentos religiosos e humanitários para se alimentar e sobreviver enquanto tenta conseguir uma vaga como estagiário em uma grande corporação financeira. Todo o esforço e sacrifício de Chris são recompensados quando é contratado pela corporação e sua vida financeira começa a mudar.
O filme fez bastante sucesso e rendeu uma indicação ao Oscar à Will Smith, sendo baseado em uma história real (o verdadeiro Chris Gardner fez fortuna como corretor de ações, é empresário e palestrante). Como pontos positivos podemos salientar o senso de responsabilidade de Chris em relação a família, um dos pilares da sociedade americana reforçado pela forte influência protestante(doutrina Metodista, baseada no teólogo John Wesley), sua persistência e determinação, apesar de apresentar, também, uma situação que remete ao panorama atual de dissolução das relações afetivas (tema das obras do recém falecido filósofo polonês Zygmunt Bauman). Assim o filme funciona como um conto de fadas moderno, onde o esforço e sofrimento são recompensados com a fortuna. Talvez esse viés tenha chamado a atenção de Will Smith, seguidor da Cientologia. O que o filme parece esquecer são os milhares de americanos na mesma situação de Gardner, que por outras variáveis, apesar de seus esforços e comprometimento, não tem a mesma "sorte", sucumbindo a condições fora de seu controle, como por exemplo uma doença debilitante, um acidente incapacitante ou ainda carecendo de uma oportunidade, as vezes tão distante quanto um prêmio de loteria. É certo que tais histórias normalmente chamam a atenção das pessoas por apresentarem um panorama romântico, que faz esquecer a mediocridade da grande maioria das existências a serviço do sistema e perpetua a esperança de um dia ser agraciado pelo toque divino ou da sorte com o reconhecimento do seu esforço e dedicação.




terça-feira, 30 de janeiro de 2018


"O radicalismo se expressa pela resposta pronta, a opinião formada. A inteligência, através da reflexão e paciência."

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Contra


contra a mídia
contra o senso
o que uso
não define
o que sou
ou o que sinto
muito menos
o que penso