sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Frestas

O quarto tinha virado uma concha
a preguiça, do tamanho do mundo
por entre o vão das tuas pernas
vislumbro o que preciso
não distante, o paraíso



quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Amanhecer

Ao sair do consultório, não conseguiu voltar para a casa e dar a notícia. Sentou na areia e entre cochilos aguardou o nascer do Sol. Entrou na água até chegar ao peito. Começou a nadar em direção ao horizonte. E se o diagnóstico estivesse errado? Agora não importava mais.

*Microconto

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Só um momento...

O pai, policial zeloso e responsável tinha um cofre. Chega em casa, abre o cofre, coloca a arma mas esquece de trancar, escuta a esposa de dieta, passando mal no banheiro. O filho mais velho, fascinado pela arma do pai, seu herói, encontra a porta do cofre encostada e arma dentro. Apanha e aponta para o irmãozinho recém chegado, que dorme no berço. BANG!


(microconto)

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Paixão Fora do Padrão

Enlouqueci
bati na tua cara
batesse na minha
com força
pra ficar vermelha
ardente e medonha
vermelha de vergonha



Sempre

Sempre juntos
tão separados
ele o caminho
ela a chegada
ele o centro
ela a beirada



sábado, 7 de setembro de 2019

Ode a Liberdade

A porta está aberta
serventia da casa
não como desaforo
mas como benefício
fique, se quiser
fuja, se precisar



domingo, 1 de setembro de 2019

A Mensagem



                Carolina tentou acomodar-se na estreita poltrona do avião. Depois daqueles dias maravilhosos ao lado de Gustavo em uma suíte luxuosa, fondue, massas, chocolates e suculentas carnes preparadas com esmero, não seria o desconforto de uma poltrona, nem o atraso do voo que iria acabar com sua felicidade. E os vinhos? Espumantes, cabernet, carménère, chardonnay acompanhados de queijos finos e saborosos embutidos. Mas o ponto alto tinha sido o passeio de trem, Gustavo nunca lhe contara que dançava e conhecia tantos ritmos. Tinha ficado, realmente, impressionada. Sua avó sempre dizia: nunca conhecemos, realmente, os outros.
Afivelou o cinto e colocou a mão sobre a mão de Gustavo que a observava pelo canto do olho e sorria. Neste instante, sentiu o telefone vibrar em sua pequena bolsa e lembrou-se que não o havia desligado. O avião ainda não estava taxiando, tirou o celular da bolsa mas antes de desligá-lo resolveu escutar a mensagem de Bia, sua melhor amiga.
Gustavo percebeu a mudança no rosto de Carol. Segurou sua mão e tentou descobrir o que estava acontecendo. Ela, congelada, pálida não conseguia tirar o telefone do ouvido, mesmo com a insistente solicitação da comissária de bordo. Quando conseguiu controle suficiente para baixar o telefone e finalmente desligá-lo, suas mãos estavam tremulas e molhadas. Só então percebeu as queixas de Gustavo, já que as unhas cortavam a pele da mão dele. Não conseguiu esperar até o avião decolar. Seus olhos vertiam lágrimas descontroladamente. Quando ela pronunciou o nome da amiga, Gustavo nem tentou negar, começo a desfiar um rosário de desculpas, das quais ela só lembrava: não tive a intenção de te magoar e nós estávamos tão felizes...
Quanto mais ele falava, ela mentalmente pedia: cala a boca, cala a boca. Achou que iria enlouquecer. Uma hora e meia ao lado do cara que a tinha traído com a melhor amiga? E que hora a desgraçada tinha achado de ter uma crise de consciência? Não podia ter sido no hotel, para ela poder ter um piti e quebrar vários objetos da suíte e ele ter que arcar com o prejuízo? Ou no apartamento, onde podia expulsá-lo e bater a porta com toda a força... justo naquele momento, nada mais a fazer, a não ser chorar, uma hora e meia ao lado daquele traste. Ela não merecia...
Tentou controlar-se mas a comissária notou seu estado e trouxe-lhe um copo d’água. Carol notou no rosto da comissária a reprovação com que ela olhou para Gustavo, como ela saberia? Isto já teria acontecido antes? Ou com ela? Duvidava.
Meu Deus, como era possível? Momentos antes sentia-se a mulher mais feliz do mundo, nos segundos seguintes, queria quebrar a janela e correr pela pista. Mas o pior era ter que suportar Gustavo tentando se justificar, por que não calava a boca? Ela até podia perdoá-lo, não ficar com ele, mas perdoá-lo simplesmente e esquecer, mas quanto mais ele falava, maior era a ódio que a consumia e mais difícil era suportar.
Finalmente aterrissaram, uma eternidade. Carol não conseguiu afastar-se de Gustavo até a esteira das malas, ele no seu pé, tentando pegar sua mão, falando o seu nome, boca imunda, falsa. Felizmente a mala de Carol apareceu, antes o suficiente da dele para ela sair e encontrar um táxi.

*Baseado em fatos...

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Acordei e descobri


Acordei e descobri:
Minha criança morreu
O que me resta?
Que mais há para encontrar?
Respirar, correr, trepar
Rodopiar, saltar, sem sorrir
Me percebi só
Adulto, forte e destemido
Sem futuro, sem mundo
O que resta?
Ser um político prepotente?
Candidato a presidente?

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Na janela

Por 50 anos, todos os dias, ela mirou a estrada, na espera.
Um belo dia, o príncipe em seu corcel, apareceu.
Ela o olhou e falou: foda-se, tarde demais...


*microconto

quarta-feira, 31 de julho de 2019

Paraty

Paraty foi descoberta por metade de mim
A outra metade, intuía e já sabia que Paraty existia
Num futuro próximo, Paraty se revelou
E se tornou um paraíso anárquico
Liberto pelo intelecto e pela emoção
Das amarras e grilhões que cercam os corações
Voltando ao seu estado natural e real
Uma utopia 
cheia e vazia
liberta da tirania





sexta-feira, 19 de julho de 2019

Extinção

Ela o deixou,
passou, abandonou
E foi como se não existisse
Gametas não se encontraram
O cometa errou o planeta
Tudo ficou em paz
Sem escombros, poeira
Somente uma lápide:
"Aqui Jazz"






sexta-feira, 5 de julho de 2019

Carrascoza


Meu primeiro contato com João Anzanello Carrascoza se deu em um programa de Tv. Me chamou a atenção pela serenidade e elegância. Quando tive a oportunidade de ter em mãos um de seus livros (Diário das Coincidências), descobri uma escrita também elegante e saborosa. Me ocorre a comparação com um delicioso sorvete, talvez por ser uma das minha sobremesas favoritas, já nas primeiras páginas somos agarrados por uma prosa quase poética que deixa a sensação nos olhos, semelhante ao da massa que, aos poucos, derrete na boca, revelando seus doces e sabores. Seus temas não são propriamente alegres e festivos, mesmo assim, perdas, desencontros e solidão são cobertos com caramelo, tornando-os mais palatáveis. Assim, vamos degustando as palavras e só lamentamos quando nos aproximamos do final. Se você ainda não provou, quer dizer, leu, aproveite e deleite-se.




sábado, 8 de junho de 2019

Mil e Uma Noites


Amava comodamente
Como quem lê um livro
Página por página
Frase por frase
Palavra por palavra
Como as Mil e Uma Noites
Mesmo sabendo que no final
Teria sua cabeça decepada
Pela espada da rotina




segunda-feira, 3 de junho de 2019


Todo poema deve parecer com um pássaro
Ter asas, mas também, bicos e garras

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Incrédulo



Ponho óculos quando não necessito
Necessito ver, mas não acredito
Quando vejo, fico aflito




quarta-feira, 10 de abril de 2019

Nei Lisboa

Confesso a minha falha. Ao sair do Rio Grande do Sul, deixei para trás alguns hábitos e costumes, alguns voluntariamente outros por desleixo. LPs e fitas Cassetes ficaram na antiga casa. Desde este período fiquei apartado da cena artística gaúcha, com raras exceções. Por isso minha surpresa traz um misto de pena por não ter acompanhado mais de perto a carreira do Nei, que já era um guri famoso naqueles tempos, por estas bandas. Mas em tempo, ainda bem, deparei-me com um projeto de 2015, um CD gravado ao vivo que se chama "Telas, tramas & trapaças do novo mundo". Achei o título um pouco pretensioso, mas ao ouvir fiquei impressionado com a qualidade do trabalho. Não sou músico nem crítico profissional, falo das minhas experiências estéticas.  O trabalho impressiona pela qualidade musical, arranjos caprichosos e músicos virtuosos que valorizam as letras poéticas e finamente irônicas que nos levam a reflexão. Dias atrás tive a oportunidade de comprovar pessoalmente o que já havia percebido nas gravações. Nei apareceu em Pelotas e fez um belíssimo show acompanhado de brilhante músico Luiz Mauro Filho. Claro que o show, que ocorreu no lindo salão da Bibliotheca Pública Pelotense, teve um clima muito mais intimista, possibilitando a proximidade do público e a interação com o artista, atencioso e gentil. Muito obrigado pelo lindo show e retorne logo Nei. 




quarta-feira, 27 de março de 2019

Vaidosa


A lua, vaidosa
Vem se mirar na lagoa
Brilhante, maravilhosa
Pouco se importa com as esbeltas
Com a Vogue, Marie Claire

Imenso espelho prateado
Ora doce, ora salgado
Pouco se importa
Se a lua cheia brilha
Pela luz do sol



Salvação


O garoto ouviu dos parentes: -vá morar com os avós para salvar o casamento dos seus pais. O garoto foi, mas ninguém se salvou.

microconto

sábado, 23 de março de 2019

Quem sabe

O Amor é a certeza
para a desilusão
ou não?
por qual razão
abrimos mão
da liberdade
da solidão?
subserviência
ou jugo voluntário
submissão compartilhada
ou não?
com o ser amado 




sexta-feira, 15 de março de 2019

Uma Sardinha Chamada Fernão



Era uma sardinha e vivia no meio de outras sardinhas. Isto a incomodava. Desejava uma identidade. Por isso, sempre que podia, procurava um lugar solitário para meditar. Esse comportamento era criticado pelo cardume. As outras sardinhas não entendiam, gritavam, -Volta pro cardume, aqui estamos seguras. Um dia, numa dessas escapadelas, chegou perto a superfície da água, olhou maravilhado para todo aquele brilho e azuis diferentes. Neste momento uma gaivota o avistou, mergulhando o apanhou. Por alguns segundos, Fernão não se deu conta do que acontecia, tão maravilhado com o que via. Lá de cima notou a mancha escura que formava o cardume, todos como um, uma forma só. Agora se sentia diferente, na barriga da Gaivota.

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Cris


Cris acordou na sala de recuperação. Logo teve ciência de onde estava e por quê. As luzes fluorescentes e o curativo que podia enxergar, mesmo fora de foco pela proximidade, não deixavam dúvidas. Estava doida para conferir o resultado da cirurgia, mas quem havia esperado vinte e dois anos, podia aguardar mais uns dias. Sabia que o local permaneceria inchado por um tempo, mas não se importava, queria poder ver e tocar. Passara os últimos quatro anos juntando dinheiro para poder realizar a operação, muitos sacrifícios e privações, agora a ansiedade a consumia. A enfermeira aproximou-se e informou que tudo havia corrido bem e logo seria liberada para voltar ao quarto.
Já no quarto, pediu um espelho. Desânimo, só conseguiu enxergar o curativo.
Mais um dia e estava em casa, passaram-se mais alguns até a retirada do curativo. Sentada à maca aguardou enquanto o médico retira as bandagens e algodões e lhe alcança um pequeno espelho com a haste e borda de prata. Ela encara a imagem refletida com espanto, apesar da satisfação estampada no rosto do médico, ela não consegue enxergar o próprio nariz, no lugar onde deveria estar a obra de arte alardeada pelo médico, ela somente vê um borrão. Por mais que tente focalizar os olhos a imagem não entra em foco. Não tem coragem de falar com o médico, é coisa da sua cabeça, fruto da ansiedade, quando chegar em casa e se acalmar tudo volta ao normal. Aceitou a opinião do médico de que tudo tinha ficado perfeito, assim como ela desejara. Dentro de mais alguns dias retornaria ao consultório para retirar os pontos. Tudo voltará ao normal, repetiu.
Mas não foi o que ocorreu, mesmo depois de tomar os remédios e dormir um pouco, ao mirar-se no espelho do banheiro, lá está o borrão no lugar do seu novo nariz. Tudo bem, pensou, vamos aguardar. Pensa em procurar a analista que lhe acompanhara nos últimos dois anos em sessões quinzenais, que era o que podia pagar. Como falar com outras pessoas? Não iriam acreditar, achariam que está louca.
No geral, sempre esteve satisfeita com sua aparência, alta, magra, pele morena e saudável, olhos escuros assim como o cabelo, liso e brilhante. Talvez os pés a incomodassem, mas o nariz... quando começara a puberdade ele começou a mudar também, mas parecia ter tomado outro rumo, que não harmonizava com o restante. Talvez herança daquela bisavó pomerana? O fato é que passou a ser algo que incomodava, mais tarde, um problema. Decidiu que, assim que pudesse, resolveria aquilo. Os meios existiam, faltava a grana. Batalhou muito para consegui-la, era focada, nada de baladas, gastos desnecessários com roupas e sapatos. E agora isto?
Evitava olhar-se no espelho, contentava-se com os elogios das pessoas. Mas o incômodo aumentava. Após a retirada dos pontos, não se conteve, até porque o médico praticamente a obrigou a olhar. Entregou o mesmo espelho de haste de prata, e o susto foi maior. A área borrada estava ainda maior, mal podia definir os olhos agora. Caiu em prantos, e o médico a consolou, disse que muitas pacientes costumavam ficar emocionadas quando constatavam o resultado. Saiu rapidamente do consultório, chegou em casa e trancou-se no quarto. Ficou no apartamento todo o fim de semana. Quando ia ao banheiro, não acendia a luz. Cobriu todos os espelhos que tinha.
Na segunda-feira não pode evitar, tinha que trabalhar. Ao olhar-se não conseguia mais definir o rosto e ao erguer as mãos, os dedos também já não se definiam. Deixou escapar um gemido e seus joelhos dobraram.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Mundiano




Mundo mundo
Vasto mundo,
As vezes pequeno e belo

Mundo mundo
Extenso mundo,
Quer se viva em uma aldeia
Quer em uma metrópole

As palavras viajam
Em ondas no ar
Por continentes e pelo mar
Por todo sistema solar

Mundo mundo
Mesquinho mundo
Mas pode ser suave
Por palavras serenas

Mãos estendidas
Em gratidão




domingo, 20 de janeiro de 2019

Parrésia

Que se fodam os ricos
Que se fodam os pobres
Todos fazemos parte deste complô
Uns por conveniência
Outros por conivência


quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Parral

O Chile tem um garfo
cravado ao pé da cordilheira
não se sabe se à direita 
ou à esquerda