Que se fodam os ricos
Que se fodam os pobres
Todos fazemos parte deste complô
Uns por conveniência
Outros por conivência
Este espaço foi criado para expressar opiniões sobre filosofia, cinema, poesia, literatura, fotografia, viagens e outros tantos assuntos que me interessam... eventualmente atualizado. Caso sinta-se estimulado por algum assunto, post ou imagem, comente, participe, ficarei muito satisfeito. Abraços
domingo, 20 de janeiro de 2019
quarta-feira, 9 de janeiro de 2019
domingo, 9 de dezembro de 2018
Pela eternidade
Ninguém perde o que
não tem
Não perdemos um
grande amor
Já que o outro nunca
nos pertenceu
Mas o amor, se grande
e verdadeiro
Sempre a nós
pertencerá
Nada nos tira
Jamais acaba
Perene será
sexta-feira, 30 de novembro de 2018
Solidão
Para alguns
parece prisão
Procuram em vão
o próprio coração
Para outros
é liberdade
espaço sem fim
imensidão
Felicidade
parece prisão
Procuram em vão
o próprio coração
Para outros
é liberdade
espaço sem fim
imensidão
Felicidade
terça-feira, 13 de novembro de 2018
50 minutos
As
sessões eram às terças, 17: 00 horas. No início, Sergio não via muito sentido
naquela hora perdida. Ria e pensava que, pelo menos a hora tinha 50 minutos.
Mas não havia muito o que fazer, a justiça havia decidido. Além da multa, o
tratamento para controle da raiva. Amanda ficou esperançosa. Em casa era fácil manter-se
calmo, raras vezes perdera o controle. A mais grave ocorrera quando lançara o
prato em que estava comendo na parede. Os cacos espalharam-se por toda a sala
de jantar. Sua mãe ainda era viva. Lembrava do olhar de desaprovação dela.
Aquele olhar congelava-o e trazia para a realidade.
Tentara
recordar o motivo de tanta raiva e nem mesmo lembrava. Seu terapeuta volta e
meia, trazia o episódio à baila, inutilmente. O que lembrava era de Amanda com
os olhos marejados, juntando os cacos e depois limpando o chão e a parede enquanto
ele permanecia com a cabeça baixa, evitando o olhar de sua mãe no outro lado da
mesa.
A marca no reboco da parede permanecera por
muitos anos. Somente após a morte da mãe resolveu pintar o cômodo e apagar os
sinais.
Mas
toda a frustração vinha à tona no trânsito. Já tentara várias maneiras de
controlar-se. Música clássica, variar o caminho, até café deixara de tomar por
algum tempo. Tudo em vão, uma fechada, um engraçadinho que tomara a sua frente,
alguém que não saia imediatamente a abertura do sinal. Sergio esforçava-se, mas
logo estava segurando o volante com tanta força que os dedos doíam. Reclamava
com Amanda: parece que todos os maus motoristas escolhem a mesma hora e o mesmo
caminho para me tirar do sério.
Não
foram poucos os acidentes em que acabara envolvido. Alguns causados
voluntariamente. Como quando o motorista do táxi tentara sair na sua frente
pela rotatória e ele acelerara seu carro. O cara acha que, só porque está
sinalizando se torna invisível?
Mas
Fernando, seu analista, tinha proposto alguns exercícios, inclusive de
respiração que pareciam estar funcionando. Afinal os 50 minutos não tinham sido
em vão. Já fazia alguns meses que não se envolvia em acidentes e conseguia
manter-se sob controle. Até aquela manhã no estacionamento do shopping. Avistou
a vaga, próximo havia outro carro com a sinaleira piscando. Aguardou um
instante, como o outro motorista não se moveu, arremeteu em direção à vaga no
mesmo momento em que o outro veículo engatou a ré. Ele continua, certamente o
outro motorista teria lhe visto, mas o outro veículo continuava em sua direção.
Em vez de frear o outro carro aumentou a velocidade e abalroou o seu. No mesmo
instante a porta do motorista se abriu e um homem furioso partiu em sua
direção. Quase não reconheceu Fernando, seu analista, enquanto ele xingava em
altos brados.
terça-feira, 30 de outubro de 2018
Pleito
Como a bela Pandora
ó Pátria amada
abriste a caixa
urna lacrada
inconsequente e vaidosa
soltastes a peste
a mentira e a raiva
com suas foices em riste
ceifando sonhos e vidas
restando remorsos e tristezas
escombros e pobreza
ó Pátria amada
abriste a caixa
urna lacrada
inconsequente e vaidosa
soltastes a peste
a mentira e a raiva
com suas foices em riste
ceifando sonhos e vidas
restando remorsos e tristezas
escombros e pobreza
segunda-feira, 1 de outubro de 2018
Pacífico
Seu
Pacífico, é assim que todos o chamam. Na oficina que ele abre de segunda à
sábado religiosamente as oito horas e fecha por volta das seis da tarde. A não
ser nas tardes de sábado, quando tem uma partida de futebol. Neste caso a oficina
de bicicletas, sua paixão, ou melhor, sua segunda paixão, fecha ao meio dia
para que ele se prepare.
Atende
a todos com gentileza e atenção, principalmente aos moleques. Aos que perguntam
a razão, responde que são seus futuros clientes. É reconhecido na vizinhança
pelo serviço esmerado e alguns clientes vem de outros bairros e até do outro
lado da cidade. Isto enche Seu Pacífico de orgulho. Nas paredes, empoeirados e
amarelados pelo tempo, fotos, pôsteres e flâmulas que relembram as glórias do
passado de seu time do coração. Entre elas um recorte de jornal comemorando os
cinquenta anos do primeiro título estadual salientando ser o primeiro campeão
do estado.
Anexo,
tem uma lojinha onde se pode encontrar peças para as Calois e Monarks, além de
acessórios, como punhos coloridos, selins estofados e pneus especiais. Está
sempre ocupado, serviço não lhe falta.
Ao
chegar em casa, sua mulher começa a desfiar um rosário de queixas que ele ouve
sem se manifestar. Logo vem os filhos com suas demandas. Muitas vezes Pacífico
refugiava-se no banheiro onde demora mais que o necessário para tomar banho ou
fazer a barba. Mesmo assim, logo alguém bate à porta perguntando se vai
demorar. Pacífico esforçava-se para ouvir e tentar atender a todos. Não que as
solicitações da esposa e dos filhos sejam exageradas, mas são muitas e ele, um
só. Não perde a calma, escutava com atenção e promete tentar encontrar uma
solução.
Finalmente
chega o fim de semana e Pacífico mal pode esperar o início da partida. Trajando
a camiseta do seu time do coração, encontra os amigos e fanáticos torcedores, na
frente do estádio uma hora antes início. Trocam informações sobre a escalação,
os reforços e tudo o mais que diz respeito ao amado time enquanto atacam um
churrasquinho ou um pastel.
Entram
ao estádio e dirigem-se ao local que consideram o melhor para assistir à
partida. Pacífico é tomado por uma forte ansiedade que só se dissipa com a
entrada de seu time ao gramado, que é ovacionada como gladiadores ao entrarem
no Circus Maximus. Os árbitros e auxiliares são sonoramente hostilizados mesmo
antes de terem oportunidade de cometer qualquer deslize. O objetivo é a
intimidação causada pela pressão da massa que também é dirigida ao adversário, “Os
que vão morrer, vos saúdam”, ao som dos mantras cantados pela torcida e a
batucada infernal da charanga.
A
tensão em Pacífico já é visível nas mãos cerradas com os dedos brancos e nos
olhos injetados combinando com a cor da camiseta.
Ao
soar o apito inicial a transformação se completa e Pacífico não atende mais
pelo nome. Grita incessantemente palavras que jamais usaria no seu dia-a-dia,
espalhando perdigotos e ofensas para o gramado.
Sua
fúria volta-se até mesmo aos parceiros de torcida que ousam criticar a equipe
em momentos inadequados. Em um lance duvidoso em que o árbitro marca um pênalti
contra seu time, Pacífico perde o fio da sanidade que o liga à normalidade e
tenta invadir o gramado escalando a tela de proteção. É contido pelos Brigadas
que fazem a segurança e levado aos berros e esperneando a uma sala embaixo das
arquibancadas onde fica isolado, sem poder assistir o final da partida e saber
que o goleiro da sua equipe defendeu o pênalti e num contra-ataque o atacante
marcou um gol driblando o goleiro.
Pacífico
tem que se contentar com os relatos dos amigos e as cenas mostradas na TV no
dia seguinte. Somente é liberado de seu castigo uma hora após o término da
partida, já que até os policiais estão indo embora.
Ao
chegar em casa a mulher pergunta por que da demora, gentilmente ele responde
que ficou conversando com os amigos. Cansado e suado percebe um rasgo na
camiseta. Dirige-se ao banheiro e toma um banho demorado. Seu Pacífico sente-se
preparado para enfrentar mais uma semana.
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