Vinha pela calçada quase aos saltos, mal tocava o chão. Finalmente acontecera, numa
época de precocidade já se sentia deslocada. Aos 16 anos se apaixonara pela
primeira vez. A maioria das suas amigas
já tinha várias aventuras para contar e ela um ou outro "crush"
somente.
Mas agora era para valer, sabia
disso, tinha valido a pena a espera. Sentia o rosto arder e o coração aos
pulos depois do primeiro beijo.
Era uma garota tímida, bonita mas introvertida, sempre sendo preterida
pelas mais ousadas. Em sua opinião, seu nome também não ajudava. A idéia fora de sua mãe, Morgana em homenagem à sacerdotisa do lago, sua personagem preferida na lenda do Rei Arthur, livro que a encantara na adolescência. Rendera-lhe todo o tipo de
apelido desde que começara a frequentar a escola. Mas para sua surpresa, ele
conhecia a origem do nome e disse que o adorava. Tudo perfeito. Mal podia esperar
para chegar em casa e contar para a mãe, sua confidente e melhor amiga.
Sentia as faces cada vez mais quentes. Começou a achar que as pessoas na rua percebiam o seu rubor.
Nem respondeu ao cumprimento do porteiro e correu para o elevador. O calor que sentia agora era sufocante, saiu rapidamente do elevador e percebeu que suas roupas começavam a mostrar manchas
escuras. Tirou a mochila e procurou a chave. Notou que o nylon da mochila derretia ao toque de seus dedos.
Desistiu da chave, tocou a maçaneta e a porta se abriu, encontrava-se só
encostada, sinal de que a mãe estava no apartamento de uma das vizinhas.
Correu para o interior do apartamento no momento que sua roupa íntima
começou a incendiar, logo foi o uniforme da escola que estava em chamas. Aos
gritos, sem entender, correu para o banheiro, deixando um rastro de trapos
queimando no piso de cerâmica.
Ao tentar abrir a porta do
box o vidro partiu-se em mil pedaços com
um estrondo. Apavorada, entrou e tentou girar o registro, enquanto seu cabelo
pegava fogo.
O registro do chuveiro começou a ficar vermelho e dissolver-se como em
uma pintura de Dali. Agachou-se em um
canto em pânico, sem saber o que fazer enquanto seu corpo inteiro ardia.
Minutos depois sua mãe volta para casa. Não entende a cena que
encontra. A mochila em frente a porta aberta, o chão cheio de cinzas,
a porta do box quebrada e um coração em brasas no piso do banheiro.
Nossa!
ResponderExcluirNossa?
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