sábado, 18 de fevereiro de 2017

Rebento

O mundo silencia sob a chuva.
Cheiro de terra, perfume de flor,
vida que brota, fruto do amor.




domingo, 29 de janeiro de 2017

Pequeno Conto Zen

Em um templo perdido no Himalaia o discípulo encontra o mestre em um terraço, terminando sua meditação.
Respeitosamente pede licença e pergunta:
 - Mestre, existe uma maneira de mudar o coração de um homem que sofreu por muito tempo?
- Para muitas pessoas o sofrimento funciona como forja, temperando sentimentos e ações, tornando a pessoa mais resistente e equilibrada à interferência do mundo. Mas em alguns casos o coração se torna frio e indiferente.
- Nestes casos mestre, como podemos tocá-lo?
-  Está quase na hora do chá, vá até a cozinha e traga o chá e a manteiga.
Sem questionar o discípulo se afasta.
Alguns minutos depois volta com uma bandeja  laqueada  e ricamente ornada, com um bule fumegante e um pote de manteiga de iaque endurecida pelo frio.
Senta-se  sobre a esteira e espera o mestre, que parece estar em estado contemplativo.
 Após alguns minutos o mestre fala:
- Você notou como  a manteiga estava quando a trouxe da cozinha?
- Sim mestre, estava fria e dura, como uma pedra.
- E como está agora, após alguns minutos sob a luz do sol?
- Já começa a ficar mais amolecida mestre.
- Quando tratamos as pessoas embrutecidas pelo mundo com paciência,  gentileza e atenção seus corações começam a se abrir.
 - Sim mestre!
 - Agora que já é possível, sirva o chá e coloque um pedaço de manteiga.
 O rosto do discípulo iluminou-se em um sorriso, antevendo o desfecho.
Retribuindo o sorriso, o mestre falou:

- A luz do sol e o calor do chá funcionam como a gentileza e a atenção ao aquecer os corações empedernidos, abrindo uma brecha para que o amor e o equilíbrio possam entrar e transformá-los.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Morgana

Vinha pela calçada quase aos saltos, mal  tocava o chão. Finalmente acontecera, numa época de precocidade já se sentia deslocada. Aos 16 anos se apaixonara pela primeira vez. A  maioria das suas amigas já tinha várias aventuras para contar e ela um ou outro "crush" somente.
 Mas agora era para valer, sabia disso, tinha valido a pena a espera. Sentia o rosto arder e o coração aos pulos depois do primeiro beijo.
Era uma garota tímida, bonita mas introvertida, sempre sendo preterida pelas mais ousadas. Em sua opinião, seu nome também não ajudava.  A idéia fora  de sua mãe, Morgana em homenagem  à sacerdotisa do lago, sua personagem preferida na lenda do Rei Arthur, livro que a encantara na adolescência. Rendera-lhe todo o tipo de apelido desde que começara a frequentar a escola. Mas para sua surpresa, ele conhecia a origem do nome e disse que o adorava. Tudo perfeito. Mal podia esperar para chegar em casa e contar para a mãe, sua confidente e melhor amiga.
Sentia as faces cada vez mais quentes. Começou a achar que  as pessoas na rua percebiam  o seu rubor.  Nem respondeu ao cumprimento do porteiro e correu para o elevador.  O calor que sentia agora era sufocante, saiu rapidamente do elevador e percebeu que suas roupas começavam a mostrar manchas escuras. Tirou a mochila e procurou a chave. Notou que o nylon da mochila derretia ao toque de seus dedos.  Desistiu da chave, tocou a maçaneta e a porta se abriu, encontrava-se só encostada, sinal de que a mãe estava no apartamento de uma das vizinhas.
Correu para o interior do apartamento no momento que sua roupa íntima começou a incendiar, logo foi o uniforme da escola que estava em chamas. Aos gritos, sem entender, correu para o banheiro, deixando um rastro de trapos queimando no piso de cerâmica.
 Ao tentar abrir a porta do box  o vidro partiu-se em mil pedaços com um estrondo. Apavorada, entrou e tentou girar o registro, enquanto seu cabelo pegava fogo.
O registro do chuveiro começou a ficar vermelho e dissolver-se como em uma pintura de Dali. Agachou-se em  um canto em pânico, sem saber o que fazer enquanto seu corpo inteiro ardia.

Minutos depois sua mãe volta para casa. Não entende a cena que encontra. A mochila em frente a porta aberta, o chão cheio de cinzas, a porta do box quebrada e um coração em brasas no piso do banheiro.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Passiflora

Poeira suspensa
Lama pegajosa
Espuma que escorre

Pétala suave
Pistilo
Zangão negro, dourado

Forma cardíaca
odor inebriante
reflexo de luz

Fruto, polpa madura
Sabor suave de cura.



* modelo incidental: Pedro Fernandes Ribas

domingo, 4 de dezembro de 2016

Elogio


"O narcisista é o ser mais fácil de ser corrompido,
não se necessita nem dinheiro..."