Clóvis acabara mais uma
refeição solitária no restaurante chinês da esquina. Como de costume pediu um
chá de jasmim e um biscoito da sorte.
Tomou um gole do chá e abriu a embalagem do biscoito. Notou que
estava diferente, o fornecedor devia ser novo. Antes a embalagem era um
envelope plástico parecido com os saquinhos de mostarda e ketchup. Este vinha
embrulhado em papel de seda, amarrado com uma fina fita dourada. Muito mais
simpático. Devia ter algo a ver com a atitude ecologicamente correta.
Ao abrir o biscoito notou um
leve flash de luz. Atribuiu ao reflexo da luz na pequena tira de papel que
estava no interior do biscoito.
Para sua surpresa a
inscrição da pequena tira de papel nada tinha em comum com as frases manjadas
que costumavam vir nas vezes anteriores. Nem mesmo as seis dezenas grafadas no
verso do papel, como palpite para jogar na mega, estavam lá.
Dizia simplesmente:
"Faça um pedido e ele se realizará".
Achou aquilo estranho mas
resolveu levar na brincadeira.
Já fazia um bom tempo que
havia se divorciado e já estava ficando cansado de ficar só, mas não encontrava
ninguém que lhe despertasse a atenção. Nos encontros o interesse pelo par
raramente resistia ao segundo chopp.
Resolveu pedir: "gostaria
de voltar a amar e encontrar alguém que me ame".
Pediu a conta e guardou o
papelzinho no bolso por hábito. Pagou e deixo um pequeno agrado para o garçom,
que já o tratava como amigo.
Dirigiu-se à porta, mas teve
que esperar por um casal que passava a sua frente.
Ao chegar a calçada percebeu
que o homem havia deixado cair a carteira. Imediatamente apanho-a
e chamou-o.
O casal deu meia-volta e os
olhos de Clóvis encontraram com os de Samanta.
Ele ficou sem fala, ela era
linda, tinha os olhos de um azul violeta, ou era efeito das lâmpadas de vapor
de mercúrio, pernas torneadas e uma saia curta sem chegar a ser vulgar, saltos
altos e muito finos.
Voltou a si com a mão de Renato
em seu ombro. Se ele notou sua confusão, não demonstrou.
Clóvis gaguejou: Tua
carteira, deve ter caído...
Renato agradeceu, apanho a
carteira, apresentou-se e apresentou Samanta.
O nome nunca mais sairia da
sua cabeça.
Renato fez questão de
retribuir. Convido-o para um happy hour no dia seguinte, por sua conta. Clóvis,
interessado em não perder o contato com Samanta, aceitou.
Ele ainda segurava a mão de
Samanta, prorrogando o cumprimento com a
conivência dela, mais por displicência e indiferença, do que por interesse.
No dia seguinte, conforme
combinado, encontraram-se e ele teve que admitir que Renato era espirituoso e
agradável. Combinaram outros encontros e até um jantar no apartamento de
Renato.
Oportunidade que Clóvis
secretamente desejava. Sentia-se um canalha, mas o que fazer? Desejava
desesperadamente a mulher do amigo.
Durante o jantar, fez o que
pode para chamar a atenção de Samanta. Mas ela parecia desinteressada nos assuntos
do marido e do amigo. Não foi mais do que formalmente gentil e quando teve a
chance, retirou-se deixando os dois a conversar.
Mesmo assim manteve a
amizade com Renato na esperança de que, em algum momento, algo mudasse ou
encontrasse uma maneira de declarar-se para ela.
Vários foram os encontros,
mas a situação permanecia a mesma.
Já estava desanimado, mas,
ao mesmo tempo, a amizade com Renato ficava cada dia mais sólida.
Em uma tarde quente, Renato
liga para Clóvis e o intima a encontrar-se com ele após o trabalho. Tinha
tomado uma decisão queria a opinião do amigo.
Encontraram-se no mesmo bar
de sempre. Renato pediu dois chopps e com um ar constrangido falou que estava
separando-se de Samanta. Seu casamento já não andava bem das pernas a algum
tempo.
Clóvis sentiu um misto de
tristeza e alegria. Teria uma chance com Samanta agora?
Para manter a conversa,
Clóvis pergunta-lhe a razão de ter tomado a decisão naquele momento.
Renado diz que apaixonou-se
por outra pessoa.
Olha nos olhos do amigo e
pega-lhe a mão.
(Este foi meu primeiro conto)
Seu conto, Jairo, é genial! Ele vai direcionando a nossa atenção para um desfecho previsível e, de repente, você nos surpreende com aquela cena... Muito bom!!!
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