Este espaço foi criado para expressar opiniões sobre filosofia, cinema, poesia, literatura, fotografia, viagens e outros tantos assuntos que me interessam... eventualmente atualizado. Caso sinta-se estimulado por algum assunto, post ou imagem, comente, participe, ficarei muito satisfeito. Abraços
domingo, 2 de julho de 2017
quinta-feira, 1 de junho de 2017
Beleza interior
Audaciosa, aproximou-se do balcão do bar, olhou-o nos olhos e perguntou se a achava bonita. Ele sustentou o olhar e respondeu: não sei, ainda não conversamos.
* dedicado à querida amiga Cláudia que me apresentou ao microconto. (primeira tentativa)
sábado, 20 de maio de 2017
Mil poemas
Nem mil poemas
fazem o tempo voltar...
O coração raso
como um lago a secar.
Mil poemas
não secam lágrimas.
Não disfarçam a tristeza,
não levam o pesar.
quarta-feira, 3 de maio de 2017
Verdades
Você mente divinamente.
Mente com certeza.
Mente porque é gente.
Mente porque precisa.
Mente para se safar.
Mente para salvar.
Mente, certamente,
mente para a sua "mente".
Mente com certeza.
Mente porque é gente.
Mente porque precisa.
Mente para se safar.
Mente para salvar.
Mente, certamente,
mente para a sua "mente".
quarta-feira, 19 de abril de 2017
Jujuba Azul
Ele era sempre o
preterido. Tímido, ficava no fim da fila para não chamar a atenção. Não
adiantava, os colegas logo o descobriam e as brincadeiras começavam. Diziam que
seu cabelo era ruim, pois era espetado e de uma cor indefinida, entre o cinza e
o preto. Quando nervoso, gaguejava.
Sua mãe morrera no parto e a mulher que morava com seu
pai não cuidava dele, suas unhas viviam longas e sujas, as roupas sempre
amarfanhadas e rasgadas. O pai
trabalhava muito, saía cedo e voltava tarde, quase não o via. Tinha o novo
irmãozinho que sua “madrasta” não deixava chegar perto “ para não passar
piolho”, dizia rindo.
O apelido nascera no dia em que a professora levara um saco de
jujubas. Todas as crianças puderam
escolher algumas. Quando o pacote chegou ao fundo da sala sobravam quase que
somente jujubas azuis, desprezadas por quase todos os demais. Ele acabou
ficando com elas e com o apelido.
A partir deste dia todos o chamavam de “Jujuba Azul “.
Ele não se importava com o apelido, até gostava das jujubas.
Para ele eram especiais, diferentes, com sabor sofisticado. Mas a sala se
divertia caçoando dele. Na época, não se falava em bullying e os professores não davam muita atenção para estas atitudes.
Assim, apesar dos seus esforços em se enturmar, foi ficando cada dia mais
isolado.
Num dia chuvoso, depois de comer a
merenda, descobriu que poderia passar o tempo do recreio na biblioteca.
Quem tomava conta da biblioteca era uma
mulher de olhar triste, calada que, ora arrumava os livros, ora estava lendo.
Ele foi até uma prateleira e
chamou-lhe a atenção uma coleção de capa dura
com ilustrações. Apanhou um deles que tinha o título “Caçadas de
Pedrinho”, que havia sido escrito por um tal de Monteiro Lobato. Encontrou uma mesa bem no canto oposto ao da professora, que o observava por cima dos
óculos enquanto lia. Ela nada falou.
Ele leu algumas páginas até a sineta
tocar. Voltou no dia seguinte e no outro e no outro. Começou a se encantar com
o universo que encontrou nas páginas do livro.
Neste tempo todo ele e a
professora somente trocaram olhares, mas ela já lhe sorria algumas vezes.
Percebendo que ele chegava ao final do livro,
abriu uma gaveta e colocou um pote colorido sobre a mesa. Ao se aproximar para
devolvê-lo, percebeu que o vidro estava cheio de jujubas. Ela
ofereceu-lhe e ele aceitou. Ao pegar o pote notou que havia algo errado. Não
existiam jujubas azuis. Perguntou-lhe o por quê.
A professora disse-lhe que elas
eram as suas preferidas.
sexta-feira, 14 de abril de 2017
domingo, 2 de abril de 2017
Desapego
Tânia abriu o guarda-roupa e seus olhos foram atraídos pelo
velho casaco. Todo início da estação fria era a mesma coisa, tirava-o do fundo
do armário e levava à lavanderia.
Mas desta vez era diferente, ao lado dele, exigindo mais
espaço, encontrava-se um casaco novinho, ainda com as etiquetas da loja
penduradas, numa cor mais vistosa e com corte mais moderno. Tânia não podia
perder a oportunidade. O bazar da igreja tinha vindo na hora certa, estavam
recolhendo doações, e ainda poderia ajudar uma pessoa necessitada. Apanhou o
velho casaco, decidida, mas não sem uma
pontinha de apego. Ele lhe servira por muitos anos. Presenciara muitos
acontecimentos em sua vida. Mas não tinha lugar no seu guarda-roupa, estava
ocupando espaço.
Mary saiu para o vento gelado da manhã. Apertou a blusa fina
contra o corpo e correu até o ponto de ônibus em uma tentativa de se esquentar.
Quando o ônibus chegou, estava começando a tremer. Lá dentro estava
confortável. Tirou o livro da bolsa e voltou à página marcada. A heroína iria
receber a notícia da doença do amado.
Quando se deu conta, tinha passado seu ponto, iria chegar
atrasada outra vez.
O próximo ponto ficava em frente a igreja, teria que andar
alguns quarteirões na manhã gelada, pensou. Ao saltar do ônibus, para sua
surpresa, percebe que está acontecendo um bazar de roupas. Seus olhos são
imediatamente atraídos para um casaco usado, mas conservado, que se encontra na
ponta de uma arara. Examina a carteira,
tem alguns trocados, pechincha com a vendedora e sai dali confortavelmente
aquecida pelo " velho" novo casaco. Afinal, perder o ponto não tinha
sido em vão.
Em casa, com mais tempo, examina melhor a peça. Boas
costuras, feito em lã dupla, com forro
de cetim. Puído em um cotovelo e com a marca da alça da bolsa da antiga dona no
ombro esquerdo e um rasgo no forro, mas no geral ainda servia. Tinha se ajustado
perfeitamente, parecia ser feito sob medida, afinal não encontrou etiqueta,
talvez tivesse sido removida.
Era uma garota habilidosa, dois retalhos de camurça nos
cotovelos, uma pequena cerzida, uma boa lavada e o ferro bem quente, ficou como
novo, pelo menos para ela.
Foram juntos a muitos lugares naquele inverno, até a uma peça
de teatro e a um museu, novas experiências.
Quase no final do inverno, enquanto passeava pelo centro da
cidade, olhando algumas vitrines, percebeu que era observada, olhos a seguiam
no meio da multidão como se a reconhecessem
de há muito tempo. Uma antiga colega de escola, uma vizinha...Não, tinha
certeza que não conhecia a moça que a observava.
Tânia afastou-se e embarcou em um táxi que estava no ponto.
Não conhecia a moça, mas apesar das pequenas modificações tinha certeza que era seu velho casaco.
Um sentimento de posse subiu à sua garganta, mas ele
parecia muito bem cuidado pela nova dona,
até parecia mais novo.
Apesar da temperatura confortável no interior do táxi,
apertou mais os braços em torno do corpo.
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